Brasil não produz mais bons técnicos?

O futebol brasileiro nunca passou por uma “invasão” de técnicos estrangeiros como hoje em dia. Atualmente, oito técnicos de clubes da Série A do Brasileirão vieram de fora do país. Esse número pode aumentar para nove caso o Botafogo consiga realizar seu desejo de contratar o português Luis Castro.

Mas o que acontece com o futebol brasileiro? Não existem mais técnicos brasileiros capazes de fazerem grandes trabalhos por aqui? São vários os fatores que levaram a essa situação um tanto quanto inusitada. As equipes brasileiras viveram uma “mesmice” por bastante tempo, sem apresentarem novidades. Muitos treinadores são considerados ultrapassados. Mas não é só a insatisfação dos dirigentes com o que tínhamos aqui que proporcionou essa “onda estrangeira”. Existem os cases de sucesso de Jorge Jesus, no Flamengo, e Abel Ferreira, no Palmeiras. Mas também tem o modismo e comodidade dos cartolas em tentarem mostrar que estão inovando sem qualquer critério, sem qualquer certeza.

Quando Jorge Jesus foi contratado pelo Flamengo, em 2019, poucos foram os treinadores estrangeiros a fazerem um grande sucesso por aqui. E até hoje alguns fazem péssimos trabalhos. Jorge Sampaoli, por exemplo, mais causou discórdia e deixou problemas no Santos e no Atlético do que uma herança boa. Miguel Angel Ramirez fracassou no pouco tempo que passou no Internacional, que por sinal, trouxe Cacique Medina esse ano e consegui a proeza de ser eliminado na primeira fase da Copa do Brasil pelo modesto Globo.

Jorge Jesus nunca teve uma carreira brilhante na Europa. O português veio para o Mengo e fez história com o Flamengo. Em pouco tempo conquistou mais títulos do que acumulou derrotas pelo clube. Sem contar o belo futebol apresentado pelo time carioca. Isso fez com que muitas equipes buscassem seguir o mesmo caminho. Uns deram sorte, como o caso do Palmeiras que, por ter sido rejeitado por Miguel Angel Ramirez, buscou Abel Ferreira, que está fazendo história no Verdão com quatro títulos em quase um ano e meio no clube. O São Paulo, que já teve vários comandantes estrangeiros nos últimos anos, conseguiu um título Paulista com Crespo, mas a sequência do trabalho foi ruim e o argentino acabou demitido.

O Atlético Mineiro, que teve em Cuca um dos maiores responsáveis pela campanha histórica de 2021, perdeu seu técnico (decidiu descansar mais uma vez) para esse ano, tentou até Jorge Jesus, mas acabou parando no argentino Antonio “El Turco” Mohamed. O Corinthians que investiu em vários grandes jogadores, também trouxe outro português, Vitor Pereira. O Flamengo está tentando retomar o sucesso novamente com outro lusitano, Paulo Sousa.

O futebol não é a ciência tão complexa como alguns tentam fazer parecer, tampouco o “vamo, vamo” da boleirada do passado. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Existem ainda treinadores brasileiros que podem fazer um bom trabalho. Cuca, apesar de já ser muito experiente, é uma prova disso. O melhor trabalho de 2021 foi o dele com o Galo. E ele é brasileiro. E essa onda de técnicos estrangeiros pode sofrer um revés, afinal, apenas um time dos 20 clubes da Série A será campeão. E os outros? Ninguém prestará? Aqui o resultado impera e dificilmente a maioria desses técnicos estrangeiros permanecerá para 2023.

Mais necessário do que treinadores estrangeiros, o futebol brasileiro precisava é passar por uma grande reformulação estrutural, sejam nas federações, na CBF (Confederação Brasileira de Futebol), até no comando, muitas vezes amador, dos clubes. Sendo administrados de maneira profissional, os times brasileiros poderiam desenvolver trabalhos muito mais consistentes e duradouros, seja como técnicos brasileiros, seja com estrangeiros. Não importa nacionalidade, de onde veio o profissional. O importante é ter qualidade.